Esse texto que vou postar agora é uma Etnografia da Boate Metrópole, aqui em Recife. Eu fiz esse trabalho no 2º período, faz um pouco de tempo, logo algumas coisas mudaram até hoje. E atenção, atenção. Nota máxima! (risos). O trabalho tem algumas (muitas) fotos que resolvi não postar, pois são pesadas.Esta descrição sobre o que acontece na balada recifense GLBTS, tem como objetivo mostrar que a diversidade sexual não deixa a desejar como um setor da economia e pode ser uma opção para o fim de semana. Se por um lado, cada vez mais boates designadas “hetero” disputam a liderança de público, a Boate Metrópole World Dance, comandava por Maria do Céu, “promove as melhores festas do Nordeste” (Site ARRASA!, 2006). Um conjunto de fatores faz com que a Metro “domine a noite recifense reunindo tribos diversas entre moderninhos, drags, barbies e muitas garotas poderosas” (Site Farora Digital, 2005). São esses conceitos que fazem da boate “uma das casas mais agitadas da cidade em seus 5 anos de existência” (L.J.C., freqüentador). A boate abre todas as sextas-feiras, sábados e vésperas de feriado.
Situada na Rua das Ninfas, Boa Vista, Recife-PE, a fachada da boate tem tonalidades de rosa e lilás, uma das principais cores da representação GLBTS, com detalhes pretos.
O show começa antes mesmo de entrar na boate. Na fila, os clientes se divertem com drag queens, transformistas, caricatas, entre outros personagens engraçados, contratados pela boate, que fazem a animação da entrada, anunciando que a balada está apenas começando e promete ser agitada. Além disso, há também os freqüentadores que vão transformados em drags, travestis, etc. Estes não têm obrigação nenhuma de animar a boate. Vão vestidos desse jeito por livre e espontânea vontade.
Na medida em que as pessoas vão entrando, dirigem-se ao Bar Brasil, um dos ambientes da boate. A decoração desse espaço é uma homenagem à Carmen Miranda. Um dos motivos por ser Carmen Miranda é devido à ela ser um ícone no país, além de ser uma diva. Por outro lado, a questão dela ser espalhafatosa, pode causar uma identificação com o público gay. Considerada uma das maiores personalidades brasileiras da década de 30. Carmen era “um emblema tropicalista” (Caetano Veloso, 1997). O que representa bem o nome do bar: Brasil.
As paredes são negras e contêm quadros com características sobre a carreira de Carmen Miranda. Além disso, são adornadas com modelos de plataformas parecidos com os usados pela pequena notável, feitas com arames, miçangas e flores. No mesmo ambiente, há um bar com uma variedade de bebidas, onde pode-se encontrar da cachaça ao whisky, passando por energéticos, vodkas e licores. Na região do teto localizado em cima deste bar, há mais características que identificam Carmen Miranda, um lustre em forma de cacho de bananas rodeado de macacos pendurados ao seu redor, numa combinação de miçangas, pedrarias, metais e flores que dão ao ambiente uma paisagem bem tropical. Toda a decoração foi feita pela marca Gatos de Rua e assinada por Beto Kelner.
Mais afastado dali, porém, ainda no Bar Brasil, ficam as picapes que são assumidas pelos DJ’s que fervem o ambiente tocando músicas nacionais, pop, flash back, etc. Geralmente, o DJ Chiclete é o responsável pela animação do local. O teto é repleto de jogo de luzes que são ligados durante a balada. Próximo ao Bar Brasil, caricaturas de sexo entre duas mulheres dão uma identidade gay ao local e tratam o tema da homossexualidade num clima de irreverência e descontração.
Por volta de 00h15min, o principal ambiente da boate é aberto ao público. É a chamada pista de dança New York Street. Nesse ambiente, há outro bar com variedades de bebidas. Num espaço um pouco mais elevado ficam as picapes, onde os DJ’s tocam músicas que levam o público ao delírio. A música é forte. Os “tuntz tuntz” entusiasmam as pessoas que dançam freneticamente com a batida eletrônica e parecem estar desligadas do mundo exterior, completamente em êxtase. Algumas fecham os olhos e sentem a música na alma. Parecem dançar como se estivessem sendo comandadas por forças maiores. Outras dançam normalmente, as vezes segurando suas bebidas ou cigarro na mão. Alguns dançam sozinhos, em pares ou em grupos maiores. Descem até o chão coladinhos uns nos outros e ao mesmo tempo em que beijam, requebram todo o corpo na velocidade da música. Alguns poucos gritam como se quisessem liberar toda a adrenalina do momento pela boca. É possível sentir o calor que envolve cada um em cada uma das músicas. DJ’s como Pax, Júnior Bomba, Cabeça, Ale e David Kelner, tocam house e vertentes e, ficam responsáveis pela agitação da galera, enquanto os jogos de luzes vão esquentando o clima na noitada. Globo de luzes, globo espelhados, raios lasers, levam a multidão à loucura e deixam a vibração cada vez maior. Pessoas se beijam, bebem, dançam, fumam. Tudo isso quase que de uma só vez. A adrenalina sobe, principalmente, para quem está comandando todo aquele pessoal. Pax nos revela a sua sensação no trecho de sua fala transcrito a seguir:
“Eu sinto uma adrenalina, uma felicidade orgástica quando a pista grita e vibra. É uma energia muito positiva.”
Os “DJ’s viraram ídolos no Brasil, a profissão é algo mais palpável hoje em dia. Tem DJ no Big Brother, na novela da Globo, festas e festivais em todo o país, público de 45 mil pessoas no Skol Beats.” (Claudia Assef, 2003).
Na parede que fica por trás das picapes dos DJ’s vários discos de vários tamanhos e cores ornamentam o espaço. Ao lado dos DJ’s, fica uma área reservada para as apresentações dos Gogo Dancers, como se fossem “cabines”. Também perto dali, um palco é usado para apresentações dos stripers, além de shows de bandas e shows drags. Abaixo desse “palco” ficam localizados os banheiros.
Outro ambiente da boate é o chamado Badalage. Um espaço ao ar livre, localizado na cobertura da boate, que reproduz a orla de uma cidade, com pequenos postes e mesas em forma de tendas, feitas com troncos e cobertas com palhas de coco, além do desenho de pessoas fazendo sexo, namorando, conversando ou somente apreciando a vista em prédios, arranha-céus e construções. Desenhos de animais também são características fortes dessa arte. Pode-se dizer que esse é o ambiente mais calmo da Metro. Nele encontra-se apenas um bar, várias mesas e cadeiras para o público conversar, namorar, paquerar. Tudo isso, de vista para o céu. O lugar ideal para quem já se “arrumou” e quer aproveitar a noite a dois num clima mais romântico.
Outro ambiente, este um pouco menor, é o Mezanino. Assimilando-se a uma “varanda”, serve, basicamente, para dar acesso do Bar Brasil à pista de dança. E ainda um ambiente localizado ao lado do Bar Brasil, repleto de sofás e pufes. Para a galera que não agüenta a “night”, um bom espaço para relaxar, pedir uma bebida e, quem sabe, até tirar uma soneca.
A Metro tenta sempre inovar a cada balada. Por isso, festas temáticas dão um gás a mais na noitada, tirando o público da mesmice. Um exemplo disso é a chamada Sexta Mexicana, onde a boate proporciona ao público uma decoração de festa mexicana, que acontece em todas as primeiras sextas-feiras do mês. E pra não perder o embalo, faz promoção da bebida que não pode faltar numa festa como essa: a tequila.
Além dessa, várias outras festas temáticas animam a boate durante todo o ano. Festa de Halloween, Festa da Espiga (São João), Festa do Pirulito (dia das crianças), Natal do Peru (Natal), Reveillon da Sorte (Reveillon), etc.
Contudo, a boate não espera nenhuma data especial para fazer festas temáticas. O Pancadão Chic (festa funk), o Metrorkut (festa da comunidade virtual da boate), Festa do Beijo, são exemplos de temas criados pela boate para transformar ocasiões não-especiais, em ocasiões mais do que especiais. Uma forma de inovar e atrair o público.
A boate ainda trás ao público os melhores shows de drags, transformistas, stripers (boy e girls), etc.
Assim é a balada GLBTS e tudo o que rola na noite mais animada do Recife. Por volta das 04h00min o público começa a deixar a boate, mas a boate só fecha quando o último cliente vai embora, às 06h00min ainda tem a turma mais animada, que espera o sol raiar para poder partir.